meditação do dia 30/01/16- A tempestade acalmada

Mc 4, 35-41

 

Primeira leitura: 2 Samuel 12, 1-7a.10-17

Morto Urias, David tomou para si Betsabé.

Tudo parecia correr bem a David.

Mas Deus está atento e vê tudo, não só os planos mais secretos do homem, mas também o que se passa no seu coração.

Natan, enviado por Deus ao rei, denuncia-lhe os crimes, recorrendo à célebre parábola do homem rico, que toma para si a única ovelha do seu vizinho pobre.

David, rei justo, não hesita em pronunciar, indignado, a sentença condenatória.

Só que o profeta remata, dizendo: «Esse homem és tu!».

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David reconhece o seu pecado e a súplica de arrependimento, que brota do seu coração, encontra expressão no Salmo 50, certamente posterior, mas acertadamente posto na boca do rei pecador.
Mas o drama continua.

Deus perdoa a David.

Não o rejeita como fez com Saul.

Mas não faltará o castigo: a criança, filha do adultério, adoece e morre, tal como hão-de morrer de forma violenta outros filhos de David (Amnon, Absalão, Adonias…).

Todavia a oração, que brota dos lábios de David, revela, não só o seu amor pelo filho, e por Betsabé, mas também a confiança do rei na oração: clama, geme, jejua, prostra-se por terra e tenta forçar, qual novo Abraão, a misericórdia de Deus.

 

Salmo: Sl 50(51),2-17
R. Criai em mim um coração que seja puro!

 

Paulinas20

 

Evangelho: Mc 4, 35-41

Se o pecado ou, melhor, os vários pecados de David nos deixaram horrorizados, o seu arrependimento sincero causa-nos admiração.
Deus serviu-se de Natan, e da sua sábia pedagogia, para levar o rei a reconhecer o seu pecado.

David escuta a história do homem rico, abençoado por Deus com muitos rebanhos, e que, para oferecer uma refeição a um amigo que o visita, rouba a única ovelha de um homem pobre.

Como rei justo, não hesita em pronunciar a sentença: «Pelo Deus vivo! O homem que fez isso merece a morte.

6Pagará quatro vezes o valor da ovelha, por ter feito essa maldade e não ter tido compaixão» (2 Sam 12, 5-6).

É nesse momento que o profeta pronuncia a sua acusação: «Esse homem és tu!» (2 Sam 12, 7).

Ele, David, era o criminoso que acabava de condenar.

Ele, que Deus cumulara de bens, tinha roubado o único tesouro de Urias, a sua mulher.

Natan, enviado de Deus, levou o rei a tomar consciência do seu crime, e anunciou-lhe o castigo.

David não tentou desculpar-se ou fugir à condenação mas confessou: «Pequei contra o Senhor» (2 Sam 12, 13).

Assim alcançou o perdão dos seus pecados e uma nova relação com o Senhor, bem expressa o Salmo 50.
A nossa familiaridade com Deus, não nos põe ao abrigo de momentos de hesitação e de dúvida, como nos mostra o evangelho.

Podemos até cair na ilusão de que, tendo-O por companheiro, Ele nos livra de situações difíceis.

Os discípulos talvez tivessem caído nessa ilusão.

Uma tempestade forte fê-los acordar, pondo em crise a sua confiança no Mestre: «não te importas que pereçamos?»

Quantas vezes, no aconchego da comunidade bem organizada, protegidos pela assiduidade aos ritos, nos sentimos tranquilos e ao abrigo de situações difíceis. «O Senhor está conosco; que nos pode acontecer?» – pensamos.

E julgamos ter muita fé e muita confiança em Deus.

Mas, à primeira dificuldade, ao primeiro fracasso, repreendemo-lo, como se nos tivesse abandonado.

As fragilidades, as incertezas, as dúvidas, o pecado, não são coisas só dos «outros».

São também nossas.

Também nós somos discípulos assustados e medrosos! Também nós somos pecadores como David.
Um monge do deserto disse que o primeiro degrau para ascender à santidade é reconhecer-se pecador.

Esse reconhecimento é já resposta a uma graça, pois não seria possível sem a ajuda de Deus.

É um modo de agir da sua misericórdia, que, para isso, às vezes se serve de um acontecimento ou da intervenção de alguém com quem nos encontramos e que, com uma palavra, nos leva a abrir os olhos para a nossa realidade.

Se acolhermos essa graça, podemos iniciar uma nova fase de crescimento espiritual.
Deus é Pai. Deus é amor… e nunca é tão Pai e tão amor como quando perdoa.

Pensemos, comovidos, na parábola do filho pródigo ou, melhor, do Pai pródigo na bondade, na misericórdia, no perdão, no amor.

 

Homilia